domingo, 22 de outubro de 2023

A vida pode enjoar ou enjoar de viver

 “Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”. Carlos Drummond de Andrade

 

“Quem vem com tudo não cansa...” Cazuza

 

“A visão do homem agora cansa - o que é hoje o niilismo, se não isto?... Estamos cansados do homem..." Friedrich Nietzsche

 

Ao longo dos meus 37 anos é óbvio que já vivi inúmeros momentos, sendo eles de felicidade, tristeza, indiferença, amor, decepção, saudade, dependência emocional, entre outros muitos sentimentos inerentes ao ser humano.

Eu sempre me considerei uma pessoa que enjoa muito fácil das coisas. Desde criança meu intento sempre foi ser “viciado” em alguma atividade. Tentei gostar de futebol, natação, karatê, atletismo, mas nada de sentir muito prazer nisso tudo. Tentei também partir para coleção, muitas coleções, de selo, figurinhas, cartão de telefone, e nada

Uma vez, me lembro bem, mais ou menos 11 anos, vi uns colegas da escola apostando santinho de político, aqueles que tem o número para votação em tempo de eleição, em uma brincadeira e me deram um daqueles. Eu perdi a aposta, é claro e fiquei sem. Prometi a mim mesmo que pegaria na rua o máximo possível. Assim foi. No outro dia, em um domingo, levantei cedo e fiquei várias horas procurando os folhetos na rua e peguei um saco de lixo de santinhos. Nos dias subsequentes, todos os dias eu pensava que tinha que ir lá nos colegas para poder apostar, mas o tempo passou e nunca abri a sacola.

Depois já velho, passei por isso em relação à minha profissão. Passei por várias profissões, vendedor de peças, estoquista, militar, servidor público, advogado, motorista de aplicativo, garçom, e talvez outras coisas que não me lembro. Mas eis a questão: não me apeguei a nada. No começo eu enjoava do que fazia com 03 anos, depois um ano, e hoje quando dá 03 meses fazendo a mesma coisa eu começo a sentir o mesmo enjoo.

Essa característica sempre me incomodou. Ocorre que dias atrás, eu assistindo uma homília do padre Bráulio (link: https://www.youtube.com/watch?si=mMU1h8YCuMBBuaLJ&v=7aaQu6iAPR4&feature=youtu.be) ele descreveu a seguinte situação: pode acontecer do ser humano enjoar da própria vida. Nossa, minha mente viajou.

É claro que já pensei sobre essas coisas, de como as coisas ficam chatas, porém nunca em uma ótica tão específica como essa. Podemos enjoar de viver? Bom, meu raciocínio foi o seguinte: uma coisa é um momento de depressão, outra é estando saudável mentalmente sentir um enjoo da vida, e não somente estar cansado de viver. Percebi uma diferença.

Quanto ao cansaço eu penso que seria o sentimento natural de estarmos envelhecendo e, com isso, começar a sentir um cansaço para fazer coisas rotineiras. Já enjoo vejo que não está ligado necessariamente ao tempo de vida, mas sim de como você sente a própria vida, ou seja, os sentimentos de emoção por exemplo tornam-se muito diminuídos, e, porque não, sem graça.

Com a explicação do referido religioso eu me identifiquei. Mas sei que certas circunstâncias da vida aceleram esse processo. Como por exemplo para mim, o fato de meu único filho ter ido morar em outro país, e não tem como eu vê-lo mais. Isso tirou me alguns anos de emoção, provavelmente. Mas na vida, vivemos um ciclo, e fico ansioso em saber se isso é definitivo, ou quem sabe um dia tudo volta, o que me forçará a escrever novas páginas sobre esse imbróglio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário