domingo, 3 de abril de 2016

Eu, em minha religião

     Principio aqui, falando de uma lembrança que sempre perambula em minha cabeça. Há muitos anos, eu ainda criança, lembro-me de minha mãe me dando um sermão sobre a necessidade de se acreditar em Deus. Nesse ponto, entre tantos outros, muito me confronto com os ideais de minha mãe, e a discussão não foi curta não. Recordo-me que meu pai só escutava, deitado no chão, como sempre ficou em suas folgas, sem dar nenhum palpite, mesmo porque aquela conversa não teria fim.
     
     Bom, mas ao final, sem ninguém concordar com ninguém, minha mãe indiretamente resmunga ao meu pai o meu supérfluo pensamento ao referir-me ao tema em questão. Meu pai me olhou, olhou para minha mãe, e disse poucas palavras, mas que me desarmaram: “Não tem que se preocupar agora com o que ele diz. Ele ainda está muito novo para entender tudo isso”. Bom, nem preciso dizer que aquilo muito me chocou, principalmente pelo fato de que meus argumentos, que com veemência os disse, não valeriam frente ao argumento esboçado por meu pai.
     
     Depois disso muito tempo passou, não tento tempo assim , e ainda carrego minhas dúvidas. Melhor dizendo, o ponto nem é tanto sobre credibilidade em Deus, mas dos que propagam as suas palavras.
     
     Desejo aqui não tratar claramente dos motivos que me trouxeram a aversão que tenho dos dogmas clericais, mesmo porque muito me prejudicaria. Mas, como já disse, tenho hoje aversão às pessoas que conduzem a palavra divina. Logicamente não de forma genérica, mas posso dizer que se trata da maioria.
    
     Hoje, digo com firmeza que acredito em Deus, não que isso me deixe mais próximo dele, já que só acredito, mas nada faço. Mas no meu tempo presente, o problema consubstancia-se em não saber de que forma posso desenvolver essa credibilidade.
Chateia-me a ideia de que somente pela Igreja é possível concretizar o meu objetivo. Que com a comunhão é que se aproxima de Deus. E é nesse momento que começo a entrar em parafuso.
    
     Por motivos que não cabe aqui mencionar, tive no ano passado uma aproximação muito intensa com a Igreja. Não estou falando de missa, mas sim tive a oportunidade de conhecer um pouco o que se passa nos bastidores do Templo. Aí é que foi meu erro, pois no início me achava um reles perto do que as pessoas testemunhavam que tinham passado e que a partir daquele momento eram diferentes, ou seja, mais voltados à vontade divina. Perguntava-me por vezes se minha vida estava valendo a pena, já que de que adiantava lutar por uma vida melhor, se a maneira que eu escolhi não tinha nada a ver com tudo aquilo.

     Via indivíduos crédulos, que até em suas vestes mostravam seus ideais, carregando no pescoço cruzes, adornos religiosos, camisetas, etc. E eu nada. Contudo, nada melhor que o tempo para mostrar o que antes eu ainda não podia enxergar. Comecei a notar que muito se falava, mas questionava se realmente tudo aquilo era verdade, se realmente agiam daquela maneira bonita de viver a vida. A conclusão que infelizmente tive que chegar é a de que não é bem assim.

     Nessa análise, volto aos adornos que eles usavam. Bem, adorno é usado para que eu possa me diferenciar de outras pessoas. Aquilo define meu grupo social, e as pessoas desse mesmo grupo passam a me reconhecer como companheiro. Nesse ponto, já é possível vislumbrar uma situação de busca pela diferenciação, o que não se difere muito do, por que não dizer, almejado status. É verdade: os participantes assíduos de atividades religiosas começam a se achar melhor que os outros que são de fora. Algo muito parecido com declarações do tipo “eu vou para o céu, e você não”.

    Calma aí. Seria exacerbadamente injusto os escolhidos para adentrarem no reino de Deus ser somente eles. E as pessoas que possuem uma vida de atitudes ilibadas, que são humildes, mas que simplesmente não se sentem bem nesse meio? Será essa pessoa, apesar de todas suas qualidades, obrigada a frequentar um antro religioso? Sinceramente, acho que não. É isso mesmo, só acho. Não posso ter certeza de algo tão abstrato. Que confusão.

     Da mesma forma, volto o foco para minha pessoa. De forma alguma estou perto dos passos que um santo segue, mas no meu íntimo penso não ser tão ruim. Erro demais, nossa como erro, mas estou falando de barbáries, pessoas “lixo”, aquelas que
vemos nos noticiários sensacionalistas na televisão. Contudo, da mesma forma que não gosto de fórmula 1, peço desculpa pelo exemplo esdrúxulo, não gosto de missa.

    “E agora José? Perdoe-me o clichê, mas não há outra frase que caia melhor. E enquanto procuro uma melhor resposta, volto à lição dada pelas breves palavras de meu pai, pois me resta esperar um pouco mais e quem sabe me chegue alguma resposta salvadora.