“Esquecer é uma
necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso,
precisa de apagar o caso escrito”. Machado de Assis.
“Dez Coisas que
Levei Anos Para Aprender
1.
Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa
pessoa.
2.
As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase
nunca querem que você compartilhe as suas com elas.
3.
Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.
4.
A força mais destrutiva do universo é a fofoca.
5.
Não confunda nunca sua carreira com sua vida.
6.
Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante
na mesma noite.
7.
Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça
humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra
seria "reuniões".
8.
Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".
9.
Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.
10.
Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário
construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.
Dave Barry”
“A velhice é a
paródia da vida”. Simone de Beauvoir
Mais
uma noite que perdi o sono. E por qual motivo, não sei exatamente. Mas mais uma
vez me peguei sonhando (não sei se dormindo ou meio acordado) com meu passado.
Por
motivos que um dia eu talvez conte, o que mais me preocupa na vida, fora minha
família, resume-se em uma frase: “Faça valer a pena”. Ouvi essa frase, na
verdade, prestei atenção nessas palavras aos 22 anos.
Imagino
que existem muitas pessoas que nessa idade já se definiram profissionalmente e
emocionalmente. Mas não foi o meu caso, e ainda continua não sendo. Então, hoje
aos 32 anos, me pergunto, será que não fiz nada valer a pena? Isso se tornou
muito importante, pois nessa idade comecei a sentir realmente as primeiras
consequências do envelhecimento. Isso quer dizer que não estou mais em
ascensão, em relação à minha virtude.
Óbvio
que verifiquei meu envelhecimento quanto ao fator estético, pois vejo que não
sou mais o mesmo, não tenho nem cabelo direito mais. Mas isso não me fez
“sentir” a velhice. Ou seja, não me importo muito com isso. O que está me
fazendo passar por esse sentimento são minhas lembranças.
Nunca
tive uma memória muito boa no que tange a lembrar de acontecimentos do dia a
dia. Mas me lembro bem de ter o seguinte pensamento quando era jovem: “creio
que nunca me esquecerei dos meus relacionamentos”. Isso significa o quanto era
importante para mim lembrar dos meus “êxitos” na conquista do sexo oposto.
Quanta bobagem, mas era importante.
Ocorre
que aconteceu o que achei que não aconteceria. Não estou me recordando mais com
convicção quais pessoas já me relacionei. E isso foi muito estranho, pois
sempre achei que pelo menos isso não se esvairia. E não parou por aí.
Um
dia, há muitos anos, perguntei a minha mãe qual o peso que eu nasci, e ela
disse para mim que não tinha certeza do peso. Achei um absurdo, pois como poderia
se esquecer de algo tão importante. E quando meu filho nasceu, há três anos,
umas das coisas que mais ficaram na minha cabeça foi o seu peso. Ainda mais,
porque nasceu prematuro. E novamente pensei: “nunca me esquecerei disso”. E,
pouco tempo após, alguém me perguntou com quanto ele tinha nascido, e para o
meu espanto me deu “um branco”.
Depois
disso, comecei a encarar tudo que eu realizo, tanto no serviço, quanto nos
afazeres de casa, na perspectiva e análise do envelhecimento. Comecei a
perceber, e só verificamos isso com uma autorreflexão, que estou realizando
tais afazeres com mais lentidão. Ainda com uma diferença pequena, mas muito
perceptível. Sempre fui muito agoniado para fazer as coisas com muita pressa.
Hoje ainda continuo com esse jeito, porém sinto que tudo está ficando mais
lento, tanto meu raciocínio quanto meu corpo.
Nossa,
paralisei agora. Pois uma coisa é viver a situação, outra é escrever sobre
isso. Leva-nos para uma atmosfera de uma maior reflexão e cai um pouco mais a
ficha.
Sempre
admirei esse estado de velhice. Não as consequências que isso traz, mas admiro
a pessoa que está passando por ela, em razão de tudo que já passou e o quanto
teve que se esforçar para estar ali. E, por isso, toda essa reflexão não me
traz tristeza por começar a sentir tudo isso. Já que parece que sempre me
preparei para esse momento.
Entretanto,
uma coisa me entristece: não imaginei que fosse começar essa etapa sem ter me
consolidado profissionalmente, sem ainda ganhar o suficiente para me manter
financeiramente. Sempre tive consciência que um dia teria que me preocupar
muito com minha saúde, com a saúde de todos a minha volta, ajudar o próximo com
suas dificuldades. Mas realmente acho que não me atentei o quanto pesaria não
ter condições financeiras para passar por isso.
Não
sei o que mais me chateia. Não ter condições financeira razoáveis ou não ter
certeza se a Advocacia será minha profissão para alcançar isso. Penso que se
ainda não sei isso, quer dizer que ainda tenho o que aprender. Tenho o que
envelhecer. E, se Deus permitir, ainda terei que escrever mais para encontrar
tais respostas.